QUANDO EU VI COM MEUS PRÓPRIOS OLHOS…
- Carla Klaritmar

- 12 de jun.
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de jun.
Eu, Everton Lopes, jamais vou esquecer aquele momento.
Era no sertão baiano, em um povoado cigano esquecido pelo mundo. Um lugar onde parecia que a dignidade havia sido arrancada — não apenas das coisas, mas das próprias pessoas. Onde o direito ao respeito era negado como se não pertencessem a esta humanidade.
Crianças descalças, famílias inteiras vivendo em barracas feitas de lona rasgada e pedaços de madeira velha. O chão? Apenas terra seca, dura, rachada. O céu, um horizonte incerto, sem promessa.
Mães tentando acender fogo com gravetos secos, equilibrando panelas velhas, furadas, tentando cozinhar qualquer coisa — só para alimentar a fome que corrói por dentro e por fora.
Não havia banheiro. Não havia água limpa. Não havia energia elétrica.
Havia apenas abandono.
Havia só o desprezo.
E, no meio disso tudo, a rejeição cruel — porque eram ciganos, porque eram pobres demais para merecer um olhar de humanidade.
Mas o que mais me dilacerou não foi só a cena da miséria. Foi o que descobri depois: as mesmas imagens, aquelas mesmas crianças, aqueles mesmos rostos, estavam sendo usados como “cartão-postal” para angariar doações — doações que nunca chegavam até eles.
Vi com meus próprios olhos a manipulação.
Vi gente enriquecendo às custas daquela dor.
Vi um falso pastor vendendo esperança e colhendo luxo, enquanto as crianças morriam de fome e frio.
Rejeitados pela sociedade, por preconceito e indiferença.
Rejeitados até por aqueles que diziam lutar por eles.
Naquele chão seco, eu entendi que lutar pelos pobres não é só dar um prato de comida.
É denunciar quem se esconde atrás da caridade para explorar a miséria.
É falar alto quando todos querem calar.
E assim fizemos: denunciamos.
Mesmo entre ameaças.
Mesmo sendo chamados de rebeldes.
Mesmo quando o mundo nos vira as costas.
Porque essas crianças não tinham voz.
E se a gente não falasse... quem falaria?
Muitos usam a dor dos outros como palanque para o próprio sucesso.
Nós usamos aquela dor como um grito de justiça.
Como um chamado para a transformação real.
Para um Evangelho que liberta, e não que escraviza com falsas promessas.
Hoje, quando lembro daqueles olhos assustados, da fome, do abandono...
Eu sei: não dá para servir a Deus e permanecer em silêncio diante da injustiça.
Não dá para ser ajudador e fechar os olhos para o mal.
Rejeição, abandono, exploração — não podem ser o destino de ninguém.
E enquanto houver um só ser humano esquecido, nossa luta não termina.
— Everton Lopes
Influenciando pessoas. Gerando vidas. Lutando por quem não pode lutar sozinho.





















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